A Liturgia do último domingo (Ano A, 8º domingo comum, Mt 6, 24-34) apresenta trecho do Evangelho que muito marcou minhas juvenis reflexões de infância e adolescência.
- Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro
- Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso?
- Não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber
- Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.
Este é mais um relato do que um estudo, então pode ser que passagens mais adequadas ao aprofundamento ou sua melhor compreensão não estejam mencionadas aqui. Esses são trechos que me marcaram e representam, de certa foram, um convite de Deus.
Não sei se a leitura que fiz à época e, mais que isso, o modo como apliquei à minha vida foram os mais consentâneos com a Boa Nova, mas sei que foram fundamentais para construir o caminho que hoje sigo na Ordem Franciscana Secular. É verdade também que outros chamados ocorreram, mas irei aos poucos relatando-os neste itinerário franciscano.
Através desse exame retrospectivo, pude entender que nem sempre compreendemos os desígnios exatos ou o que Deus nos reserva. Apenas com o tempo é-nos dada a graça de contemplar a grandiosa participação do Pai em nossas vidas.
Minha forma de viver é marcada por esse excesso de preocupação que tanto ocupa o lugar de Deus em nossas vidas e nos conduz ao sofrimento e ao pecado. A criança já sabe disso.
E a inexplicabilidade da fé nos deixa ver que isso não se trata de mera conjectura de nossa compulsão para ver de modo positivo um conjunto desordenado de fatos em nossa existência, mas um mistério divino. Como explicar a um não crente a certeza que nos invade a alma, a sensação da presença de Deus, diante de tantos argumentos químicos, fisiológicos, psicanalíticos, da luta pela construção de uma "normalidade"?
Sobram-nos a convicção, os milagres, o testemunho. Sobra-nos tentar brandir a obviedade da existência de Deus para os irmãos a quem, como Paulo nos lembra, somos enviados como Embaixadores de Cristo (2Cor 5, 20).
Muitas vezes recebi de Deus pela boca de outro a pergunta: "por quê você crê?". Quando não, recebi a admiração por uma conduta consentânea com a crença em Deus - ainda que não possa ser modelo de revelação cristã: "você crê?!". Para muitos, a instrução que Deus, por meus pais, oportunizou deveria ser suficiente para afastar a crença em Deus ("Muitos olhavam para mim como para um prodígio, porque eras tu o meu abrigo seguro"; Sl 71, 7) - ainda quando eu sentia que me afastava de Deus. E também não poucas vezes a fé foi vista como extrapoladora daquele limite das convenções sociais, como se houvesse um limite para ser levada a sério - mesmo quando os outros a levassem dentro desse limite.
Mas havia algo a mais no que acreditar. Não há limites para o Amor de Deus nem para a entrega a Ele. Não há um ponto onde eu coloco o meu querer em seu lugar, o mundo quando Ele já não me pareça proporcionar suficiente prazer.
Por que creio
Há duas perguntas aí. Por que crer em Deus. Por que crer em Cristo.
Um apego racional faz com que nos refugiemos em tentativas de explicar para o outro, como se isso pudesse convencê-lo por si só (a fé é dom gratuito e sobrenatural de Deus), a existência de um Ser criador e não criado. Difícil, ainda que grandes Santos tenham construído significativas e portentosas explicações; quase sempre ignoradas pelos críticos.
Já o crer em Cristo e o ser católico são intimamente relacionados.
Acima de tudo é preciso dizer que creio na liberdade, na união, na Paz, na vida em Fraternidade.
Os católicos são perseguidos em todo o mundo e não será diferente nos locais em que gozem de mais liberdade. Tudo por pregarem a liberdade e o Amor como sinal de vida entre os homens.
Há muita incompreensão e perguntas falaciosas.
Argumentos que, na maioria das vezes, senão na totalidade, não resistiriam a leitura e conhecimento de documentos da Igreja.
Sigo a Cristo em primeiro lugar e, como me ensinou meu primeiro assistente espiritual, sigo a Doutrina que melhor permitir isso. Não encontrei ainda uma mais perfeita que a Católica.
Sou católico por opção, não por conveniência, não por influência familiar, mas por estudo e por chamado de Deus. Isso é de certa maneira uma falha em minha conversão, mas foi assim que cheguei e só posso pedir a misericórdia de Deus.
Querer negar a Trindade, a eucaristia, a encarnação é uma tentativa que não encontrou ainda respaldo nem no exercício das mentes cultas nem na ciência - basta ver a análise dos milagres mais significativos.
Confirmações científicas de fatos bíblicos, por sua vez, apenas mostra o que já era comprovadamente sabido há milênios por transmissão do Santo Espírito. São como reproduções em laboratório de fenômenos naturais. A natureza já fazia; agora é preciso saber um porquê fazer. E não será retirando a religião que esse porquê surgirá.
Mas, como rezamos, "é melhor compreender que ser compreendido". E, nesse patamar, prefiro muitas vezes não responder por quê eu creio, mas sim, indagar: você quer crer?
O catolicismo é uma forma de vida prática pautada pelo amor a Deus e ao próximo. Assim, mais proveitoso é perguntar-se pelo que pode ser feito para ajudar o outro. Como Deus, através de nós, pode agir em sua vida.
Paz e Bem!