Em Jericó, Jesus curou um homem cego que passou a segui-lo. E nesse momento, temos uma primeira lição: como o cego que Jesus curou em Jericó, aquele que consegue ver, ter discernimento, segue Jesus, os mandamentos da Lei de Deus. Mais, temos uma segunda lição: Jesus cura, faz ver aquele que não enxergava.
Como ele, digamos: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” (Lc 18:38). Jesus, salva-me!
Não interessa quantos nos mandem ficar calados, quantos não tenham a mesma fé, quantos não vejam na Igreja senão a passagem de algo grandioso sem participar ou compreender seu mistério. Aquele que está necessitado é o primeiro a compreender a grandeza do Reino de Deus.
E aquele homem disse a Deus (v. 41): “eu quero enxergar de novo”!
A lição é tal qual Deus comunica ao nosso interior no Apocalipse: “Converte-te e volta à tua prática inicial” (Ap 2:5). Eis o Caminho.
Eis a volta para quem quer “enxergar de novo”: identificar o erro e corrigir-se, glorificando a Deus com o seu seguimento, de modo a ser exemplo para a comunidade (Lc 18:43); não por si, mas para e pela glória de Deus.
Pois, como na bênção de Santo Antônio, “o
Leão da
tribo de
Judá, o
Rebento de
Davi venceu!” (Ap 5:5).
Essa vitória é a superação do que é mundano, do mundo, pois, todo o exteriormente belo que se possa fazer nesta vida, ainda que seja um Templo, “será destruído” (Lc 21:6).
A paciência para suportar as tribulações do mundo e não se desesperar ou achar que já chegou o fim dos tempos deve passar pela consciência de que muito há por ser feito, como tanto lembrou Francisco de Assis.
A plenitude do tempo está perto de nós, pois Cristo ressuscitou e está conosco, isso nos basta. Vislumbrar a grandeza de Deus é ver o tempo que não passa, pois Ele é “Aquele que-é, que era e que-vem” (Ap 1:8), início e fim de tudo. Portanto, ainda que não tenham chegado os acontecimentos descritos nas revelações de São João, essa ilimitada compreensão da realidade está conosco.
Por isso, nas dificuldades, o Senhor nos enviará o Seu Espírito (Lc 21:15; Ap 1:9-10).
Essa é uma defesa prometida aos justos, aos que temem ao Senhor – reconhecem sua grandeza, como profetizaram Malaquias (3:20) e Daniel (7:9, 13:” entre as
nuvens do
céu vinha alguém como um
filho de
homem”; tal qual o Senhor falou a São João em Ap 1:7, 13-14), e foi registrado no Salmo 1 (v. 3: o justo ”é como
árvore plantada junto d’
água corrente:
dá fruto no
tempo devido, e suas
folhas nunca murcham.
Tudo o
que ele
faz é
bem sucedido”). Tudo isso é verdade e tudo isso se dá no tempo presente. Grandiosos são os mistérios do Senhor.
Por isso, ainda que saibamos dos cuidados que Deus dispensa àqueles que agem com amor a Ele e ao próximo, buscando converter-se a cada dia, faz parte desse Caminho não se acomodar. Como deixou escrito São Paulo, “não que não tivéssemos o direito de fazê-lo, mas queríamos apresentar-nos como exemplo a ser imitado” (2Ts 3:9). Daí sua lição “quem não quer trabalhar, também não deve comer” (v. 10).
Mas que trabalho realizar num mundo que é pequeno para nosso Deus? Construir o seu Reino, a começar pelo interior nosso e dos irmãos.
O princípio da sabedoria é o temor ao Senhor (Eco 1:12), a qual se obtém através dos mandamentos (v. 23). E nisso, vemos que “debaixo do sol”, das coisas sujeitas ao tempo, tudo se apequena diante do real propósito da vida (Ecl 2:22). E, diante do labor diário, a grande felicidade é desfrutar do que obtém pelo seu esforço, pois divinas são a energia e a alegria, mas reconhecendo que “isso vem das mãos de Deus” (v. 24). A única e verdadeira alegria está em participar da obra de Deus.
Por fim, São Paulo se dirigiu aos “que não fazem nada” (2Ts 3:11) e exortou-os ao trabalho.
A dignidade do trabalho está no fato de que se deve respeitá-lo como esforço que emana da vida de alguém. Apropriar-se do trabalho alheio ou de seu fruto é, assim, ir de encontro à própria vida, dom de Deus.
Para quem trabalha, que coma “na tranqüilidade o seu próprio pão”, pois de ninguém tirou, senão de si mesmo. E isso ainda deve ser corrigido, pois, não foi de si que recebeu, mas de Deus, e reconhecer isso está na base da felicidade, tal qual admoestou São Francisco: “vivificados pelo espírito da letra divina são aqueles que não atribuem ao corpo toda letra que sabem e desejam saber mas por palavra e exemplo devolvem-nas ao altíssimo Senhor Deus, de quem é todo bem” (Admoestações, c. VII). “Pois come da árvore da ciência do bem aquele que se apropria de sua vontade e se exalta pelos bens que o Senhor diz e opera nele” (c. II) e assim surge a ciência do mal.
Mas esse não fazer nada que é criticado não deve ser entendido apenas na ociosidade. No mundo consumista em que vivemos – valorizador das coisas materiais – fazer nada é não cuidar de edificar a si e ao outro em direção a Deus. Tal será a insensatez que se apaga como o dia quando o sol se põe.
Digamos: Senhor, tem piedade de mim, quero enxergar de novo!
Paz e Bem!