Hoje gostaria de compartilhar algumas reflexões e imagens
que me ocorreram.
Há uma forma de soberba que contamina sutilmente a nossa
alma e ali instala as sementes de joio. Ela é relacionada ao pecado original, a
uma busca de satisfação no mundo pelo homem e parte da consciência que a pessoa
tem de suas próprias qualidades, virtudes e habilidades.
Sua manifestação mais sutil é quando se acha que pode mudar não uma pedra de cada vez, não o seu pequeno trabalho, mas o mundo. E não me refiro aos desejos mais altaneiros, mas a uma sensação de que se pode fazer tudo pelo outro. Uma sensação de segurança na própria arte ou saber que contamina a consciência de que essa possibilidade apenas pode vir de Deus. Essa é a
tentação que se instala paulatinamente no deserto. Transformar a
pedra em pão, aceitar o mal, jogar-se no abismo: fazer o mal que nos alivia,
aceitar o errado como certo, adotar uma vida de práticas equivocadas (ver "minhas palavras, teus lábios").
Mudar o mundo é possível. Muitas coisas são possíveis a um
só quando esse um quer algo. Mas há motivos justos e injustos para ser rico, há
motivos justos e injustos para ser pobre e assim por diante. Tudo depende desse motivo. A questão
não é a empreitada, é porque eu vou dar aquele passo.
Lembro de ter lido nos escritos da vida de São Francisco uma
advertência do santo de Assis de que o mal faz crer ao virtuoso que ele faz o
bem quando persiste no erro.
Por isso duas imagens podem ajudar.
A primeira, é a daquele que, diante de um espaço vazio para
um jardim nada planta. Não cuida da terra, não faz nada. Apenas observa. Virão
as ervas daninhas e irão tomar conta do terreno. Mesmo que insista em acreditar que não fez o mal, ele não pode dizer que fez o
bem. Ele não manteve a prática do bem. Não precisou semear as ervas sufocantes.
Elas vieram e cresceram no lugar. Porém, se cultivar e ornar o seu jardim,
então poderá cuidar do que deve ser arrancado e de ter espaço para as belezas
simples da natureza que resolvam nascer.
A segunda, é a missão da pessoa que compra
matéria-prima para fabricar uma obra de arte. Ela está ali para fazer surgir a
beleza de suas mãos. Ela até pode saber como, mas não precisa extrair da
natureza aquele material. Esse trabalho pertence a outro. Porém, a qualidade do que faz será intimamente
relacionada em conhecer esse processo. Ele precisa conhecer o que adquire para utilizar. Dessa forma deve ser o modo como suavemente
deixamos Deus agir no nosso dia-a-dia. Assim deve ser o modo como devemos
transformar em atos cotidianos e firmes as palavras do Evangelho.
Haverá os momentos de ir buscar o Evangelho, de pregar a
Palavra de Deus. Mas haverá aqueles em que tudo o que deveremos saber fazer – e
por isso cada um é chamado conforme sua vida – é coloca-la em prática na nossa
vida e na vida do outro.
Paz e Bem!
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