Franciscanos Seculares em Natal

Estruturada a partir de Fraternidades Locais, a Ordem Franciscana Secular compõe-se de pessoas que, assumindo sua condição de batizados, propõem-se a, no estado secular, seguir o Evangelho conforme o exemplo de São Francisco, observando a Regra e Vida da OFS. A Fraternidade São Francisco de Assis integra a Família Franciscana do Brasil e fica na Cidade Alta (Centro), em Natal-RN. Foi a primeira da cidade.

Levar o Evangelho à Vida

"Hoje que a Igreja deseja viver uma profunda renovação missionária, há uma forma de pregação que nos compete a todos como tarefa diária: é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos. É a pregação informal que se pode realizar durante uma conversa, e é também a que realiza um missionário quando visita um lar. Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho." (Evangelii Gaudium, n. 127)

Oração de São Francisco


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

No meu itinerário Franciscano II

Todos nós somos chamados à santidade (“vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo”, Lv 11,44; 1Cor 1, 2; 1Pd 1, 15-16). E, por vezes, a misericórdia de Deus, para sua maior glória, tira-nos da miséria através de uma vocação particular.
A liturgia do último domingo me fez retornar à época em que Deus especialmente me lembrou disso.
Foi um chamado para um longo caminho, do qual até hoje eu apenas vejo o monte, sigo para lá, mas cabe a Deus decidir qual o destino. E, nesse monte, Deus nos vê de longe. Tudo que está perto passa, passa rápido. Mas o monte continua lá, impassível, vencendo o tempo e o espaço.
Pelos idos de 1994 ou 1995, por encaminhamento de Padre Penha, conheci Livanildo, o qual me apresentou a Pastoral Universitária. Mas não foi aí ainda que eu entendi o que isso significava ou o que era Igreja. Mas me apaixonei por aquele chamado antes mesmo de conhecê-lo.
Certo dia, movido pela Palavra, fui até o apartamento de Hildemar, e lá expus como eu fiquei maravilhado com esta frase:Vós sois o sal da terra”! Pois bem, “se o sal se tornar insosso, com que salgaremos?”! (Mt 5, 13)
É preciso trabalhar, cada um como foi chamado, pois, primeiro, o Reino de Deus (Mt 6, 33).
E, na mesma liturgia, São Paulo nos diz: “a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens” (1Cor 2, 4-5).
Saber deixar Deus agir, sem sermos omissos, é muito importante. Lembra a passagem na qual o Senhor nos ensina: “Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer” (Mt 10, 19), “porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer” (Lc 12, 12).
Por isso se pode dizer que feliz é “o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos” (Sl 111, 1), pois “aos que o temem deu-lhes o sustento” (Sl 110, 5).
Esses mandamentos são, acima de tudo, liberdade de tudo que é mundano e oprime o homem como espinhos (Mt 13, 22; Mc 4, 7; Lc 8, 7), por mais difícil que por vezes nosso compromisso possa parecer (“o mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem fora de teu alcance”, Dt 30, 11).
Mas o mal nos convida a aderir a ele, como se o real e tangível fosse o verdadeiro bem (RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré. Trad. por José Jacinto Ferreira de Farias, scj. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. p. 41). Adverte-nos sobre o tema São Francisco de Assis: “mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares engenhosamente as coisas celestiais, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais das coisas celestiais e ainda agora conhece mais as da terra que todos os homens juntos” (c. V, 5-6). Da mesma forma, São Tiago: “Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem e tremem” (Tg 2, 19). E mais: “cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia” (Tg 1, 14).
Por isso a grandeza de Deus se revela naqueles que buscam a santidade. Disse São Paulo que não procurou mostrar sabedoria, para que pudessem os ouvintes saborear as palavras do Espírito. De modo semelhante, disse Francisco que Deus não viu “entre os pecadores nenhum mais vil, nem mais insuficiente, nem maior pecador do que eu, e porque, para fazer aquela operação maravilhosa que ele quer fazer, não encontrou nenhuma criatura mais vil na terra; e por isso me escolheu para confundir a nobreza, grandeza, força, beleza e sabedoria do mundo, para que se saiba que toda virtude e todo bem vêm dele e não da criatura, e que nenhuma pessoa pode se gloriar diante dele; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, a quem pertencem toda honra e toda glória para sempre” (Fioretti, c. 10).
Portanto, não é na sabedoria do mundo que iremos encontrar nossas respostas. Ao contrário, é na entrega ao Amor de Deus que ela repousará: assim se manifesta nossa obediência.

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6, 5). Eis o primeiro grande mandamento.
“Quando no meio de vocês aparecer algum profeta ou intérprete de sonhos e apresentar a você um sinal ou prodígio - se esse sinal ou prodígio que ele anunciou se realiza e ele convida você: ‘Vamos seguir outros deuses (que você não conheceu) e vamos adorá-los’ - não dê ouvidos a esse profeta ou intérprete de sonhos. Trata-se de uma prova com que Javé seu Deus experimenta vocês, para saber se vocês de fato amam a Javé seu Deus com todo o coração e com todo o ser. Sigam a Javé seu Deus e a ele temam; observem seus mandamentos e lhe obedeçam; sirvam a ele, e a ele se apeguem.” (Dt 13, 2-5)
Nada deve nos afastar de Deus. “Amamos, porque Deus nos amou primeiro” (IJo 4, 19). Deus é Amor. Nada deve nos afastar desse amor.
“A luz que vemos é una com a luz que nos faz ver” (LELOUP, Jean-Yves. O Evangelho de João. Trad. por Guilherme Teixeira. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 168). Sem o Amor de Deus, nada seríamos, pois não poderíamos amar.
E como isso se deturpa em nosso pecado original, nesse contato com o mundo que nos faz não conseguir enxergar a Deus? (Cf. ZUERCHER, osb, Suzanne. A espiritualidade do eneagrama: da compulsão à contemplação. São Paulo: Paulus, 2001. p. 18 e segs). Rousseau, ainda que com a visão, num contexto geral, presa aos contextos do mundo em que viveu, nos diz: “a astronomia nasceu da superstição; a eloqüência, da ambição, do ódio, da adulação, da mentira; a geometria, da avareza; a física, de uma vã curiosidade; todas, e a própria moral, do orgulho humano. As ciências e as artes devem seu nascimento aos nossos vícios: duvidaríamos menos das suas vantagens, se o devessem às nossas virtudes.” (Discurso sobre a ciência e as artes, segunda parte).
Retornando ao tema da tentação no deserto, primeiro, somos convidados a agir pela necessidade, sem julgarmos o acerto de nossa ação. Realizar a tentação fácil, o convite ao que está palpável, satisfazer a fome, ter.
É preciso nesse momento sermos firmes e dizermos que, sobre tudo e todos está Deus, pois o homem não vive somente de pão. Não são apenas as coisas materiais, mas o invisível divino é que nos completa. Mas para isso temos de estar preparados, sermos levados pelo Espírito (Lc 4, 1). Assim poderemos enfrentar a busca de Deus no “deserto”.
É quando a semente cai à beira do caminho, nos quais a Palavra não ecoa.
Esse momento será sobretudo forte naqueles que são voltados para a ação, nos quais o Espírito impele a agir na comunidade. Será uma provação para aqueles que têm a tentação de não deixar nada a faltar – a si ou aos outros - e, assim, sem perceber, pretendem prover mais do que Deus.
Amarás a Deus de todo o teu coração!

Uma outra etapa será voltada àqueles que mais se recolhem no seu pensamento. Vencida a primeira tentação, o convite do mal – que sempre propõe supostamente um bem - se volta para aquele que avaliou o bem e o mal. E, em assim agindo, crê fazer o bem quando na verdade faz o mal…
É a semente que chega a fazer raízes, mas é volúvel às coisas do mundo.
Rapidamente, a necessidade que ultrapassou o primeiro momento transforma-se na sensação de poder. Mas, só a Deus devemos adorar.
Devemos ter serenidade para avaliar que o fruto daquelas ações é mau (Mt 12, 33). E, assim, em radicalidade franciscana, optar pelo Bem. Jamais, pelo aparente abrandamento do Mal, equivalente à flagelação do Cristo por Pilatos.
Acreditar que Deus deseja que persistamos na ação que evidentemente não está de acordo com os mais óbvios preceitos cristãos e atentam contra a Família, a Igreja, o outro, a dignidade humana, a Trindade, é aceitar a oferta do Poder sobre o temporal. É deixar de adorar a Deus e substitui-lo por nossa livre avaliação.
É a ausência da pobreza de espírito de que nos fala São Francisco em suas admoestações (c. XIV).
Resolve-se assim a carência por uma apresentação tranqüila perante o mundo daqueles que se acham pouco amados.
Amarás a Deus de toda a tua alma!

Por fim, aquele que está preso a este mundo não cessa de nos convidar. Uma vez que tenhamos nos negado a fazer o que está à mão, que tenhamos visto que era errado e persistidos firmes em Deus, ele buscará a sensação de fraqueza que ainda nos resta. Seremos tentados a não ver que Cristo com os anjos une o céu e a terra (“os anjos o serviam”, Mc 1, 13).
Será a vez de nos cegar e, sem mais pensarmos que fazemos do certo o errado, compreendendo que algo é errado e, ainda assim, fazê-lo. É a entrega definitiva ao erro. É o salto do alto do Templo (Lc 4, 9).
Mas, “não tentará ao Senhor, teu Deus”.
O Amor a Deus impede que nos entreguemos abertamente ao erro. Isso seria duvidar de Deus e por-lhe à prova. Não tentarás!
Isso fala profundamente nas pessoas mais impetuosas, prontas a agirem tomadas pela paixão e o calor do momento. Não tentarás! Só Deus é o Senhor.
É a semente que luta contra os espinhos…
Amarás a Deus de todas as tuas forças!

Amando a Deus no próximo com nosso pensamento, alma, coração e forças, poderemos chamá-lo de Pai em nossa inteireza. Faremos com que os céus encontrem a terra e Deus nos conduza em nossa missão.
A cada momento de nosso dia devemos refletir sobre a frase que eu devo dizer ("nem só de pão", "só a Deus adorarás...", "não tentarás..."), conforme o desejo que eu sinta no momento. E, sobretudo, ver a Deus no próximo. E isso significa compreender que estamos no mundo para servir, e não impor a nossa vontade.
Afinal, "o cristão que reza não pretende mudar os planos de Deus nem corrigir o que Deus previu; procura, antes, o encontro com o Pai de Jesus Cristo" e "quem caminha para Deus não se afasta dos homens" (Deus Caritas Est, n. 37, 42).


Sobretudo neste momento, atentemos para a advertência do Santo de Assis: “guardemo-nos muito para que, sob a aparência de alguma recompensa ou de obra ou de ajuda, não percamos ou afastemos do Senhor a nossa mente e o nosso coração” (Regra Não Bulada, c. XXII, 25), para que “os negócios e … cuidados mundanos” (n. 20) não sejam porta de entrada para o Mal e o afastamento de Deus e dos irmãos. Humildade e pobreza de espírito devem ser nossos objetivos.

Paz e Bem!

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