Roma, 20 de Março de 2016.
Domingo de Ramos da Páscoa do Senhor.
Sem dúvida Cristo ressuscitou!
Queridos irmãos e irmãs,
Que o Senhor te conceda a paz!
Eu lhes envio as minhas saudações mais fraternas, com uma das saudações mais antigas entre os cristãos: alegramos-nos porque Cristo ressuscitou! Nosso Pai misericordioso, que está no céu não permitiu que a morte vencesse a vida. Os primeiros cristãos do primeiro século usaram a saudação: Cristo ressuscitou! E responderam: sem dúvida ressuscitou! Este é o centro da nossa fé e os primeiros cristãos sabiam que isso deveria ser continuamente professado e compartilhado com todos. Que alegria ter este cumprimento como se fosse o nosso pão de cada dia! A luz não se pode esconder, a alegria deve ser compartilhada!
Nós somos mensageiros da ressurreição. Devemos dar testemunho de Cristo que morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; ...Ele foi sepultado, e... ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (cf. 1 Cor 15.3-4). Ser apóstolos da Boa Nova pertence à nossa vocação e missão franciscana.
A salvação vem da cruz, morte e ressurreição de Cristo que renovou o mundo. Vivemos em um admirável mundo novo, mas às vezes gostaria de ver mais provas disso. Somos chamados a viver, trabalhar e cumprir nossa vocação e missão neste mundo renovado.
A obra redentora de Cristo, que principalmente refere-se à salvação dos homens, também inclui a renovação de toda ordem temporal. Daí a missão da Igreja não é apenas levar a mensagem e a graça de Cristo aos homens, mas também aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho. No cumprimento da missão da Igreja, os cristãos leigos exercem seu apostolado na Igreja e no mundo, tanto na ordem espiritual como na temporal. Estas ordens, embora distintas, são muito ligados em um único plano de Deus que Ele mesmo pretende levantar todos em Cristo e é uma nova criação, inicialmente na terra e completada no último dia. Em ambas as ordens dos leigos, sendo fiéis e cidadãos, devem ser realizados de forma contínua pela mesma consciência cristã. (Vaticano II, AA. 5.)
Há mais de quarenta anos, temos sido chamados a desempenhar esta missão. É hora de olhar para dentro de nós mesmos e começar de novo. Nós sempre podemos renovar nossas vidas e, assim, continuar a sermos parceiros na renovação de Deus. E a Páscoa é um momento especial quando podemos comemorar e desfrutar do amor de Deus que não tem fim, e experimentar como este amor pode renovar o mundo unindo o nosso amor e nossos esforços a Deus. Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso (Lucas 6-36).
Esta é uma Páscoa especial para nós, porque este é um ano especial. A celebração é sempre especial, mas aprofundar a misericórdia de Deus e dar graças para o ano tem algo ainda mais importante. Deus nos assegura sua misericórdia e convida-nos a ser misericordiosos como ele. Nesta carta eu gostaria de convidá-los para completar a nossa alegria pascal com a decisão de fazer um esforço maior para testemunhar a ressurreição, distribuindo o amor misericordioso do Pai que está nos céus.
Durante este ano da misericórdia, nossa vida deve ser caracterizada por sermos misericordiosos. O que poderia construir melhor as nossas fraternidades senão a misericórdia divina?
A misericórdia é a primeira característica de Deus. É o nome de Deus. (P. Francesco-Andrea Torniello: O nome de Deus é misericórdia, 2015). Acreditamos que a nossa Ordem é guiada pelo Espírito Santo, que confessou que São Francisco é o verdadeiro Ministro geral da Ordem, e que o Pai nos dá o Seu amor eterno. Eu acho que nada pode criar um verdadeira fraternidade melhor do que a misericórdia de Deus, que nos convida a sermos todos misericordiosos.
Devemos sempre e especialmente este ano, lembrarmos-nos de viver e agir com consciência. Porque o que vai acontecer, se seguirmos as obras de misericórdia corporais e espirituais, é que nossas fraternidades se tornarão mais vivas, teremos uma melhor compreensão das dificuldades e das misérias daqueles que nos rodeiam e vamos ser mais compassivos e, assim, levar o amor e a misericórdia de Deus ao mundo. Não é isso, a missão apostólica que brota da nossa vocação?
Neste espírito, convidamos você nesta Páscoa para conhecer e experimentar as obras corporais e espirituais de misericórdia, especialmente em nossas fraternidades, mas também trabalhar no mundo, no lugar e no momento em que foram colocados.
Eu sei que o testemunho daqueles irmãos e irmãs que alimentam os famintos e dão de beber a quem tem sede de muitas maneiras: em cozinhas, arrecadação de alimentos, e convidando aqueles que estão lutando em suas casas e em suas fraternidades. Que bênção serem instrumentos do Senhor, quando o Pai no céu os alimenta (Mateus 6:26). Este tipo de solidariedade e compaixão deve caracterizar a nossa vida fraterna dentro da Ordem. Devemos estar atentos às necessidades dos nossos irmãos e irmãs, tanto na nossa fraternidade local, como internacionalmente. As diferenças entre as fraternidades nacionais, envolvendo os nossos irmãos e irmãs são grandes, e como irmãos e irmãs, nós sempre devemos trabalhar nesta obra mundial de solidariedade e fraternidade.
Muitos no mundo estão privados de dignidade e de segurança social que se caracteriza pelos bens materiais essenciais. Ter uma casa para morar, um lugar de refúgio e um lar para a família é o que todo ser humano merece. Nossa tentativa de vestir os nus, e abrigar os peregrinos é parte de como construir um mundo mais fraterno e evangélico para a realização do Reino de Deus na terra (Regra 14).
Você também tem que cuidar daqueles que não têm liberdade de movimento, como eles são forçados a permanecer em suas casas por várias razões, ou estão em hospitais ou prisões. Os doentes, os idosos, são nossos irmãos e irmãs mais próximos. Visitar os doentes e presos é uma forma privilegiada de expressar o quanto Deus nos ama: é Ele quem dá o primeiro passo, e apesar de nossas capacidades, é ele que chega perto. É Ele que nos amou primeiro, e seu amor é verdadeiro, porque não espera qualquer recompensa. Esta é também uma excelente oportunidade para experimentar o que para Deus significa liberdade: liberdade de espírito, da alma, liberdade para amar.
Enterrar os mortos não significa apenas proporcionar um belo funeral, mas é também redescobrir a dignidade da vida humana. Temos de acompanhar aqueles que estão prestes a enfrentar um retorno à casa do Pai e o acompanhamento fraterno é extremamente gratificante para todos. É um privilégio ajudar alguém que está pronto para passar a última porta e ver que a vida na Terra é apenas uma primeira parte curta, de tempo que leva a vida eterna. Sem dúvida Cristo ressuscitou!
Tudo isso é uma parte importante da nossa presença global e nosso trabalho para a Justiça, Paz e Integridade da Criação.
Gostaria também de chamar atenção para o que as obras da misericórdia espirituais possam trazer o crescimento de nossas fraternidades. E quando falo de fraternidade em primeiro lugar, mas não só, eu quero dizer a fraternidade local, porque elas são o primeiro e principal lugar onde vivemos nossa vocação.
As obras de misericórdia espirituais são atos de amor e compaixão fraterna, derrubando paredes, construindo a unidade e trazendo todos para mais perto de Deus. Onde há misericórdia e discrição, não há superficialidade nem dureza (Adm XXVII).
Temos de encontrar o grande tesouro que Deus nos deu nessas ações.
Temos que melhorar a formação, em termos de recursos humanos, cristãos e franciscanos. Isto também deve incluir dar conselhos aos que necessitam e ensinar o que não sabem. Somos responsáveis uns pelos outros, caminhar juntos de mãos dadas em nosso caminho vocacional.
Os pecados envenenam as fraternidades, tanto ocultos ou manifestados. Muitas vezes temos medo de admoestar uns aos outros, muitas vezes somos tímidos, mas devemos advertir os pecadores como um ato de fraternidade, tentando encaminhá-los para o caminho certo, com amor e espírito fraterno.
A advertência não é uma condenação ou sentença, mas uma abordagem amorosa para restaurar os laços fraternos feridos. Ela pode ser o primeiro passo para a reconciliação, ajudando uns aos outros a reconhecer os nossos pecados e nos reconciliar com Deus e com o próximo. A reconciliação contém a plenitude do amor. Da mesma forma, muitas vezes os nossos irmãos e irmãs, e até nós mesmos, sentimos uma perda, estamos indignados, feridos. Nós construímos nossa fraternidade quando consolamos os aflitos e mesmo quando suportarmos pacientemente as pessoas feridas. Ser paciente é restaurar a paz no coração, a paz que vem do Espírito Santo, o Consolador. Através destes atos entregamos a fraternidade ao Espírito, e com este Espírito, cada um de nós pode perdoar as ofensas.
Finalmente, quando oramos a Deus pelos vivos e mortos, lembramos que nossas fraternidades estão sempre crescendo. Não se esqueça que o número de membros visíveis da fraternidade não é real. Temos muitos, muitos irmãos e irmãs santos que estão intercedendo por nós e que são verdadeiros membros da nossa fraternidade.
Com essas ações, seremos instrumentos da misericórdia divina, e daremos glória a Deus de nós mesmos.
O ano da misericórdia é um grande tesouro, uma oportunidade para todos nós crescermos na fé e no amor.
Há outro ponto importante, como um breve resumo ou conclusão do que está escrito acima. Quando nos lembramos o lema deste ano, lemos o Evangelho de Lucas: Não julgueis para que não sejais julgados; Não condeneis, e não sereis condenados; Perdoem e sereis perdoados; Dareis e recebereis; uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois à medida que usarem também será usada para medir vocês". (Lucas 6,37-38).
Parem de julgar e condenar, perdoem e se doem aos demais. Três breves pontos, que são essenciais para a nossa vida fraterna. Três passos na vida espiritual, três tijolos ou pedras que são colocados um por cima do outro. A primeira é a condição do segundo, e o segundo é condição do terceiro. Temos de começar a parar de julgar e condenar, assim seremos capazes de perdoar, e uma vez perdoando, nós vamos ser capazes de doar-nos uns aos outros. Lembremo-nos que, uma medida transbordante será em nós derramada!
A misericórdia de Deus nunca é um estímulo para continuar as práticas ruins, mas uma luz focada em um novo caminho a seguir. Entremos neste caminho agora, agora mesmo! Vamos deixar que Deus renove a nós e nossas fraternidades!
Que Cristo, o Senhor ressuscitado sea nossa alegria e nossa ajuda. Cada um de vocês estão em meus pensamentos e minhas orações. Vos envio minhas mais pessoais e fraternas saudações.
Seu irmão e ministro,
Tibor Kauser
Ministro General da OFS
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