Naquele dia [em que… vos falarei abertamente a respeito do Pai] pedireis em meu nome, e já não digo que rogarei ao Pai por vós. Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus. […] Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo havereis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16:25b-27, 33).
Ter a paz em Cristo é ter a alegria completa (Jo 16:24): sem as satisfações momentâneas e passageiras do mundo. É uma paz duradoura, que só se perde pelo afastamento, pelo pecado.
Uma só essência, três formas, diviníssimo mistério da Santíssima Trindade, deixado claro por um Filho que ele próprio pede o batismo do mundo “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28:19). De um Filho que se identifica com o Pai, de onde procede o Espírito que nos acompanha em nome do Cristo, como visto pelos discípulos de Éfeso (At 19:6).
Em diversos momentos desta vida, somos levados – muitas vezes, por nossos próprios pés - a desilusões. E, aos poucos, apenas sentimos o mal que o mundo pode nos fazer.
Aos poucos, o próximo se torna fonte de angústia e sofrimento. Já não conseguimos ver a Deus nele. Assim, deixamos de ser imitadores de Cristo, para sermos criaturas dependentes do mundo e suas alegrias.
Mas, “se você se apresenta para servir ao Senhor, prepare-se para a provação” (Eco 2:1). E, como criaturas, somos sujeitos a falhas. Nessas falhas, quanto mais subirmos em busca do Pai, maior poderá ser nossa queda. Mas não temamos, pois vela por nós o Pai, seus anjos e a Comunhão dos Santos.
Na morada celestial (Jo 14:2), deparamo-nos com a presença inafastável de Maria Santíssima, assunta por Deus ao céu. É ela a filha escolhida pelo Pai, a esposa que compartilha os dons do Espírito e a mãe que se aproxima carinhosamente de nós com o seu filho, para que, como João Batista ainda no ventre, pulemos de alegria (Lc 1:41). E é o Filho, com seu olhar manso e bondoso, que nos dá carinhosamente a sua Paz. Essa suprema gravidez do Espírito, “cheia de graça” divina (Lc 1:28), é querida por Deus, pois completa sua criação, repleta de bondade (cf. Gn 1).
O Filho pede que olhemos por sua mãe (Jo 19:27), como exemplo de pertença à Sagrada Família de Nazaré. E diante da divindade do Cristo, não podemos pensar diferente nos céus, à semelhança do que pregou na sua simplicidade Santo André Bessete, acerca de São José.
E a mãe nos traz o Filho, apresenta-o a nós caritativamente em seu ventre, …em seus braços, …aos pés da cruz. Agradeçamos devotamente.
Mas pelas provações, se as superamos, deixamos de ser solo árido, pedregoso ou cheio de espinhos, para ser solo fértil (Mt 13:1-9). As tentações nos levam a superar etapas, mas creiamos primeiro, que não só de pão, das coisas do mundo, vive o homem; depois, se a tentação persiste, lembremos que só a Deus adoraremos; e, por fim, que não tentaremos o Senhor (ver texto "minhas palavras, teus lábios").
E quanto mais aprendemos sobre uma queda, tanto mais estamos atentos ao Espírito Santo e meditamos sobre seus ensinamentos, participando sempre da graça sacramental (Regra e Vida da OFS, sobretudo artigos 5º e 8º). Será cada vez mais difícil cair.
Porém, quando nos afastamos de Deus, teremos de passar novamente por diversas provações, pois todo o mal que se instalou (Mt 12:43-45) relutará em sair; principalmente se o próprio ser o procurou e nega a Deus. A arrumação da casa se dá de modo duro.
Nesse momento, a oração é poderosíssimo aliado, pois se a pessoa se nega a agir por Deus ou a ouvi-lo, ainda que por admoestações daqueles que Ele envia, esse é o caminho que resta (Mc 9:29).
Mas, do mesmo modo que o Senhor é quem conduz ao alto (1Sm 7:12: “até aqui nos socorreu o Senhor”), Ele é quem nos envia ao Filho (Jo 6:37). Roguemos por merecermos essa graça, pois longe das forças de Deus, nada podemos (Fl 4:12-13: “estou acostumado a toda e qualquer situação: viver saciado e passar fome, ter abundância e passar necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece”). Apenas assim, tudo poderemos suportar.
Num momento de consciência da graça divina, em louvor, seremos levados a dizer como Davi, “quem sou eu, Senhor, […] para que me tenhais trazido até aqui?” (2Sm 7:18). E aí residirá toda a consciência da misericórdia divina. Nesse momento poderá ser compreendida a solidão da criação diante do madeiro no calvário e o sofrimento de um Deus humanado que se entrega por nós.
Agradeçamos e, como os apóstolos, digamos: “aumenta a nossa fé”, Senhor! (Lc 17:5) Queremos crer e imitar-te dignamente, pois disse o Senhor: “no mundo havereis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16:33).
Paz e Bem!