Franciscanos Seculares em Natal

Estruturada a partir de Fraternidades Locais, a Ordem Franciscana Secular compõe-se de pessoas que, assumindo sua condição de batizados, propõem-se a, no estado secular, seguir o Evangelho conforme o exemplo de São Francisco, observando a Regra e Vida da OFS. A Fraternidade São Francisco de Assis integra a Família Franciscana do Brasil e fica na Cidade Alta (Centro), em Natal-RN. Foi a primeira da cidade.

Levar o Evangelho à Vida

"Hoje que a Igreja deseja viver uma profunda renovação missionária, há uma forma de pregação que nos compete a todos como tarefa diária: é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos. É a pregação informal que se pode realizar durante uma conversa, e é também a que realiza um missionário quando visita um lar. Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho." (Evangelii Gaudium, n. 127)

Oração de São Francisco


sábado, 18 de outubro de 2014

Sobre a família - I

Família em primeira pessoa

Sou Franciscano. Sou Católico Romano. Tenho um Credo. Não foi uma imposição ou circunstância cultural, mas opção. Diante de tantos fatos que escapavam às explicações naturais, foi o único conjunto de ensinamentos sério e coerente capaz de ser posto à prova que encontrei. Poderia então ter sido outro, claro. E é preciso estar aberto para ver que estava errado. Paradoxalmente, essa descoberta do erro é sinal de estar no caminho certo. É bom. Mas até agora, só achei os erros anteriores a essa confirmação.
Esse pensar advém de uma certa curiosidade pessoal que me fez seguir pelo caminho da ciência, da dúvida permanente, da busca de segurança, certeza. Nesse caminho fiz vários cursos nos mais diversos níveis. Há graduação concluída, outra não, cursos de extensão, de aperfeiçoamento, um mestrado, um doutorado, concursos, cursos no exterior, dois pós-doutorados (um ainda em curso). Vivo em um meio com colegas céticos sobre religião, ateus, agnósticos e com crenças as mais diversas, no qual os argumentos contam bastante e o diálogo é sério e respeitoso. Passei a conhecer bem os motivos da negação religiosa, do afastamento do divino, os limites da influência cultural, familiar, entre outros aspectos. E sempre me coloco à disposição para quem tenha algum interesse em saber o porquê do que eu acredito ou por quê eu acredito.
Em primeiro lugar, por Jesus. As demais respostas são consequência.
Família é coletivo de amor. Local onde Deus "nasce" e onde se casa com o seu povo. Mas, como consta no início, dou aqui o meu depoimento pessoal, individual, em primeira pessoa, sobre a família.
Recentemente, vejo acentuadas as críticas, sobremaneira por desconhecimento, acerca da compreensão da Igreja sobre a família.
Em comum, o fato de que os autores das críticas pouco ou nada leram do que a Igreja efetivamente disse. Assim, apresentam idéias errôneas sobre os fatos ou mesclam épocas e informações sem conexão entre si.
O objetivo aqui não deve ser o de uma apologética abrangente e geral, mas de expressar algumas inquietações. Isso é oportuno à vista da realização do Sínodo sobre a Família no Vaticano e diante de inúmeras propostas legislativas no Brasil e no mundo acerca do tema.
Em tudo e sobretudo, minha disponibilidade para estudar junto as perguntas que podem inquietar o coração de quem lê.

Papa no encerramento do Sínodo: "Esta é a Igreja, nossa mãe!"

Papa no encerramento do Sínodo: "Esta é a Igreja, nossa mãe!"



Eu poderia tranquilamente dizer que – com um espírito de colegialidade e de sinodalidade – vivemos realmente uma experiência de “Sínodo”, um percurso solidário, um “caminho juntos”.
E tendo sido “um caminho” – e como em todo caminho -, houve momentos de corrida veloz, quase correndo contra o tempo prá chegar logo à meta; em outros, momentos de cansaço, quase querendo dizer basta; outros momentos de entusiasmo e de ardor. Houve momentos de profunda consolação, ouvindo os testemunhos dos pastores verdadeiros (cf. João 10 e Cann. 375, 386, 387) que levam no coração sabiamente as alegrias e as lágrimas dos seus fieis. Momentos de consolação e graça e de conforto escutando os testemunhos das famílias que participaram do Sínodo e partilharam conosco a beleza e a alegria de sua vida matrimonial. Um caminho onde o mais forte sentiu o dever de ajudar o mais fraco, onde o mais esperto se apressou em servir os outros, mesmo por meio dos debates. E sendo um caminho de homens, com as consolações houve também outros momentos de desolação, de tensão e de tentações, das quais se poderiam mencionar algumas possibilidades:
- Uma: a tentação de enrijecimento hostil, isto é, de querer fechar-se dentro do escrito (a letra) e não deixar-se surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito); dentro da lei, dentro da certeza daquilo que conhecemos e não daquilo que devemos ainda aprender e atingir. Desde o tempo de Jesus, é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cuidadosos e dos assim chamados – hoje – “tradicionalistas” e também dos “intelectualistas”.
- A tentação do “bonismo” destrutivo, que em nome de uma misericórdia enganadora, enfaixa as feridas sem antes curá-las e medicá-las; que trata os sintomas contra os pecadores, os fracos, os doentes (cf. Jo 8,7), isto é, transformá-los em “fardos insuportáveis” (Lc 10,27).
- A tentação de descer da cruz, para acontentar as pessoas, e não permanecer ali, para realizar a vontade do Pai; de submeter-se ao espírito mundano ao invés de purificá-lo e submeter-se ao Espírito de Deus.
- A tentação de negligenciar o “depositum fidei”, considerando-se não custódios, mas proprietários ou donos ou, por outro lado, a tentação de negligenciar a realidade utilizando uma língua minuciosa e uma linguagem “alisadora” (polida) para dizer tantas coisas e não dizer nada”. Os chamavam “bizantinismos”, acho, estas coisas...
Queridos irmãos e irmãs, as tentações não devem nem nos assustar nem desconcertar e muito menos desencorajar, porque nenhum discípulo é maior do que seu mestre; portanto se Jesus foi tentado – ate mesmo chamado de Belzebu (cf. MT 12, 24) – os seus discípulos não devem esperar um tratamento melhor.
Pessoalmente, ficaria muito preocupado e triste se não houvesse estas tentações e estas discussões animadas; este movimento dos espíritos, como chamava Santo Inácio (EE, 6), se tudo tivesse sido de acordo ou taciturno em uma falsa e ‘quietista’ paz. Ao contrário, vi e escutei – com alegria e reconhecimento – discursos e pronunciamentos plenos de fé, de zelo pastoral e doutrinal, de sabedoria, de franqueza, de coragem: e de parresia. E senti que foi colocado diante dos próprios olhos o bem da Igreja, das famílias e a “suprema Lex”, a “salus animarum” (cf. Can. 1752). E isto sempre – o dissemos aqui, na Sala – sem colocar nunca em discussão as verdades fundamentais do Sacramento do Matrimônio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a ‘procriatividade’, ou seja, a abertura à vida (cf. Cann. 1055, 1056 e Gaudium et Spes 48).
E esta é a Igreja, a vinha do Senhor, a Mãe fértil e a Mestra atenciosa, que não tem medo de arregaçar as mangas para derramar o óleo e o vinho nas feridas dos homens (cf. Lc 10, 25-37); que não olha a humanidade de um castelo de vidro para julgar ou classificar as pessoas. Esta é a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e formada por pecadores, necessitados da Sua misericórdia. Esta é a igreja, a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu Esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas (cf. Lc 15). A Igreja que tem as portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos e não somente os justos ou aqueles que acreditam ser perfeitos! A Igreja que não se envergonha do irmão caído e não faz de conta de não vê-lo, ao contrário, se sente envolvida e quase obrigada a levantá-lo e a encorajá-lo e retomar o caminho e o acompanha para o encontro definitivo, com o seu Esposo, na Jerusalém celeste.
Esta é a Igreja, a nossa mãe! E quando a Igreja, na variedade dos seus carismas, se expressa em comunhão, não pode errar: é a beleza e a força do sensus fidei, daquele sentido sobrenatural da fé, que é doado pelo Espírito Santo para que, juntos, possamos todos entrar no coração do Evangelho e aprender a seguir Jesus na nossa vida, e isto não deve ser visto como motivo de confusão e de mal-estar.