Franciscanos Seculares em Natal

Estruturada a partir de Fraternidades Locais, a Ordem Franciscana Secular compõe-se de pessoas que, assumindo sua condição de batizados, propõem-se a, no estado secular, seguir o Evangelho conforme o exemplo de São Francisco, observando a Regra e Vida da OFS. A Fraternidade São Francisco de Assis integra a Família Franciscana do Brasil e fica na Cidade Alta (Centro), em Natal-RN. Foi a primeira da cidade.

Levar o Evangelho à Vida

"Hoje que a Igreja deseja viver uma profunda renovação missionária, há uma forma de pregação que nos compete a todos como tarefa diária: é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos. É a pregação informal que se pode realizar durante uma conversa, e é também a que realiza um missionário quando visita um lar. Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho." (Evangelii Gaudium, n. 127)

Oração de São Francisco


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

UM SANTO ORGULHO, por Dom Fernando Rifan

Dom Fernando Rifan: UM SANTO ORGULHO:             Diante dos ataques contra a Igreja por causa da fraqueza humana e queda de seus membros, especialmente nos EE UU, cito trechos ...

O CARNAVAL, por Dom Fernando Rifan

Dom Fernando Rifan: O CARNAVAL:              Estamos próximos do Carnaval, atualmente uma festa totalmente profana e nada edificante. Ao lado de desfiles deslumbrantes das escolas de samba, com todo o seu requinte, riqueza de detalhes, fantasias fascinantes, desperdício de dinheiro, exposição de luxo, vaidade e também despudor, presencia-se paralelamente uma verdadeira bacanal de orgias e festas mundanas, cheias de licenciosidade, onde se pensa que tudo é permitido. Nesses dias, a moral vem abaixo: até as pessoas mais sérias se mostram debochadas, a imoralidade e a libertinagem campeiam, a pureza perece e a tranquilidade desaparece. Infelizmente, há muito tempo que o Carnaval deixou de ser apenas um folguedo popular, uma festa quase inocente, uma brincadeira de rua, uma diversão até certo ponto sadia. ...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Papa Francisco cria 19 novos cardeais

O papa Francisco criou 19 novos cardeais no último domingo (23/02/2014) em solenidade que contou com a presença do Papa Emérito Bento XVI.
Disse o papa na ocasião: “Jesus não veio a nós para ensinar boas maneiras! Para isso, não precisaria descer do céu e morrer sobre a cruz. O Cristo veio para nos salvar, para nos mostrar o caminho, o único caminho de saída das areias movediças do pecado, e este caminho é a misericórdia. Ser santo não é um luxo, é necessário para a salvação do mundo.”
Ele fez questão de sublinhar importância da santidade do cardeal, em um oferecimento gratuito.
“Por conseguinte, amemos aqueles que nos são hostis; abençoemos quem fala mal de nós; saudemos com um sorriso a quem talvez não mereça; não aspiremos a fazer-nos valer, mas oponhamos a mansidão à prepotência; esqueçamos as humilhações sofridas. Deixemo-nos guiar pelo Espírito de Cristo: Ele santificou-se a si próprio na cruz, para podermos ser “canais” por onde corre a sua caridade. Este é o comportamento, esta é a conduta de um Cardeal. O Cardeal entra na Igreja de Roma, não entra numa corte. Evitemos todos – e ajudemo-nos mutuamente a evitar – hábitos e comportamentos de corte: intrigas, críticas, facções, favoritismos, preferência. A nossa linguagem seja a do Evangelho: “sim, sim; não, não”; as nossas atitudes, as das bem-aventuranças; e o nosso caminho, o da santidade” […] “Queridos Irmãos Cardeais, permaneçamos unidos em Cristo e entre nós! Peço-vos que me acompanheis de perto, com a oração, o conselho, a colaboração”.
O Papa Emérito Bento XVI compareceu a convite do Papa Francisco. Este o saudou tão logo ingressou na Basílica de São Pedro. Esta foi a primeira participação do Pape Emérito em uma solenidade desde sua renúncia em 11 de fevereiro de 2013. Cogita-se que poderia participar da vindoura canonização dos Beatos João Paulo II e João XXIII, em 27 de abril próximo.
Os 19 cardeais consolidam uma mudança no perfil da hierarquia eclesial conduzida pelo Espírito Santo. Aqueles com direito a voto em conclave estão geograficamente divididos pela metade entre aqueles do Hemisfério Sul e da América do Norte (61) e Europeus (61).

Isso permite que muitos países com grande quantidade de fiéis tenha melhores vias de comunicação com a totalidade da Igreja e possam assim participar mais ativamente da construção do Reino de Deus. Dos 19 novos cardeais, cinco são latino-americanos (Argentina, Chile, Brasil, Haiti, Nicarágua), dois africanos (Costa do Marfim e Burkina Faso) e dois asiáticos (Coréia do Sul e Filipinas). Mas vários dos europeus tiveram significativas vivências na América Latina. Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, foi criado cardeal.

Fontes:

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Saudação da CNBB ao novo bispo Caicó (RN)

Com a notícia da nomeação do padre Antonio Carlos Cruz Santos como bispo da diocese Caicó – RN, a CNBB divulga nesta quarta-feira, 12, mensagem assinada pelo secretário geral, dom Leonardo Steiner. A Conferência acolhe o padre Antônio como seu novo membro e deseja a ele "um pastoreio abençoado na Igreja Particular que o recebe como novo Pastor". A seguir, a íntegra da mensagem:

Saudação ao novo bispo Caicó (RN)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB acolhe, com alegria, a nomeação do Revmº. Padre Antônio Carlos Cruz Santos como Bispo da Diocese Caicó – RN. O Papa Francisco o nomeou, hoje, 12 de fevereiro.

Natural do Rio de Janeiro, nasceu em 1961 e recebeu a ordenação presbiteral em 1992. É membro da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus (MSC).

Acolhemos o Revmº. Padre Antônio como novo membro da CNBB, desejando-lhe uma profícua caminhada episcopal, na comunhão e na fidelidade à Igreja. Como nos ensina o papa Francisco em sua primeira Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, a alegria do evangelho é uma alegria missionária.  Assim, “o Bispo deve favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja diocesana, seguindo o ideal das primeiras comunidades cristãs, em que os crentes tinham um só coração e uma só alma” (EG, 31).

Em comunhão com o povo das comunidades de Caicó, desejamos ao padre Antônio um pastoreio abençoado, fruto de abnegado serviço missionário a essa Igreja Particular que o recebe como novo Pastor.



Leonardo Ulrich Steiner

Bispo Auxiliar de Brasília


Secretário Geral da CNBB  

No meu itinerário Franciscano II

Todos nós somos chamados à santidade (“vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo”, Lv 11,44; 1Cor 1, 2; 1Pd 1, 15-16). E, por vezes, a misericórdia de Deus, para sua maior glória, tira-nos da miséria através de uma vocação particular.
A liturgia do último domingo me fez retornar à época em que Deus especialmente me lembrou disso.
Foi um chamado para um longo caminho, do qual até hoje eu apenas vejo o monte, sigo para lá, mas cabe a Deus decidir qual o destino. E, nesse monte, Deus nos vê de longe. Tudo que está perto passa, passa rápido. Mas o monte continua lá, impassível, vencendo o tempo e o espaço.
Pelos idos de 1994 ou 1995, por encaminhamento de Padre Penha, conheci Livanildo, o qual me apresentou a Pastoral Universitária. Mas não foi aí ainda que eu entendi o que isso significava ou o que era Igreja. Mas me apaixonei por aquele chamado antes mesmo de conhecê-lo.
Certo dia, movido pela Palavra, fui até o apartamento de Hildemar, e lá expus como eu fiquei maravilhado com esta frase:Vós sois o sal da terra”! Pois bem, “se o sal se tornar insosso, com que salgaremos?”! (Mt 5, 13)
É preciso trabalhar, cada um como foi chamado, pois, primeiro, o Reino de Deus (Mt 6, 33).
E, na mesma liturgia, São Paulo nos diz: “a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens” (1Cor 2, 4-5).
Saber deixar Deus agir, sem sermos omissos, é muito importante. Lembra a passagem na qual o Senhor nos ensina: “Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer” (Mt 10, 19), “porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer” (Lc 12, 12).
Por isso se pode dizer que feliz é “o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos” (Sl 111, 1), pois “aos que o temem deu-lhes o sustento” (Sl 110, 5).
Esses mandamentos são, acima de tudo, liberdade de tudo que é mundano e oprime o homem como espinhos (Mt 13, 22; Mc 4, 7; Lc 8, 7), por mais difícil que por vezes nosso compromisso possa parecer (“o mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem fora de teu alcance”, Dt 30, 11).
Mas o mal nos convida a aderir a ele, como se o real e tangível fosse o verdadeiro bem (RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré. Trad. por José Jacinto Ferreira de Farias, scj. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. p. 41). Adverte-nos sobre o tema São Francisco de Assis: “mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares engenhosamente as coisas celestiais, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais das coisas celestiais e ainda agora conhece mais as da terra que todos os homens juntos” (c. V, 5-6). Da mesma forma, São Tiago: “Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem e tremem” (Tg 2, 19). E mais: “cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia” (Tg 1, 14).
Por isso a grandeza de Deus se revela naqueles que buscam a santidade. Disse São Paulo que não procurou mostrar sabedoria, para que pudessem os ouvintes saborear as palavras do Espírito. De modo semelhante, disse Francisco que Deus não viu “entre os pecadores nenhum mais vil, nem mais insuficiente, nem maior pecador do que eu, e porque, para fazer aquela operação maravilhosa que ele quer fazer, não encontrou nenhuma criatura mais vil na terra; e por isso me escolheu para confundir a nobreza, grandeza, força, beleza e sabedoria do mundo, para que se saiba que toda virtude e todo bem vêm dele e não da criatura, e que nenhuma pessoa pode se gloriar diante dele; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, a quem pertencem toda honra e toda glória para sempre” (Fioretti, c. 10).
Portanto, não é na sabedoria do mundo que iremos encontrar nossas respostas. Ao contrário, é na entrega ao Amor de Deus que ela repousará: assim se manifesta nossa obediência.

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6, 5). Eis o primeiro grande mandamento.
“Quando no meio de vocês aparecer algum profeta ou intérprete de sonhos e apresentar a você um sinal ou prodígio - se esse sinal ou prodígio que ele anunciou se realiza e ele convida você: ‘Vamos seguir outros deuses (que você não conheceu) e vamos adorá-los’ - não dê ouvidos a esse profeta ou intérprete de sonhos. Trata-se de uma prova com que Javé seu Deus experimenta vocês, para saber se vocês de fato amam a Javé seu Deus com todo o coração e com todo o ser. Sigam a Javé seu Deus e a ele temam; observem seus mandamentos e lhe obedeçam; sirvam a ele, e a ele se apeguem.” (Dt 13, 2-5)
Nada deve nos afastar de Deus. “Amamos, porque Deus nos amou primeiro” (IJo 4, 19). Deus é Amor. Nada deve nos afastar desse amor.
“A luz que vemos é una com a luz que nos faz ver” (LELOUP, Jean-Yves. O Evangelho de João. Trad. por Guilherme Teixeira. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 168). Sem o Amor de Deus, nada seríamos, pois não poderíamos amar.
E como isso se deturpa em nosso pecado original, nesse contato com o mundo que nos faz não conseguir enxergar a Deus? (Cf. ZUERCHER, osb, Suzanne. A espiritualidade do eneagrama: da compulsão à contemplação. São Paulo: Paulus, 2001. p. 18 e segs). Rousseau, ainda que com a visão, num contexto geral, presa aos contextos do mundo em que viveu, nos diz: “a astronomia nasceu da superstição; a eloqüência, da ambição, do ódio, da adulação, da mentira; a geometria, da avareza; a física, de uma vã curiosidade; todas, e a própria moral, do orgulho humano. As ciências e as artes devem seu nascimento aos nossos vícios: duvidaríamos menos das suas vantagens, se o devessem às nossas virtudes.” (Discurso sobre a ciência e as artes, segunda parte).
Retornando ao tema da tentação no deserto, primeiro, somos convidados a agir pela necessidade, sem julgarmos o acerto de nossa ação. Realizar a tentação fácil, o convite ao que está palpável, satisfazer a fome, ter.
É preciso nesse momento sermos firmes e dizermos que, sobre tudo e todos está Deus, pois o homem não vive somente de pão. Não são apenas as coisas materiais, mas o invisível divino é que nos completa. Mas para isso temos de estar preparados, sermos levados pelo Espírito (Lc 4, 1). Assim poderemos enfrentar a busca de Deus no “deserto”.
É quando a semente cai à beira do caminho, nos quais a Palavra não ecoa.
Esse momento será sobretudo forte naqueles que são voltados para a ação, nos quais o Espírito impele a agir na comunidade. Será uma provação para aqueles que têm a tentação de não deixar nada a faltar – a si ou aos outros - e, assim, sem perceber, pretendem prover mais do que Deus.
Amarás a Deus de todo o teu coração!

Uma outra etapa será voltada àqueles que mais se recolhem no seu pensamento. Vencida a primeira tentação, o convite do mal – que sempre propõe supostamente um bem - se volta para aquele que avaliou o bem e o mal. E, em assim agindo, crê fazer o bem quando na verdade faz o mal…
É a semente que chega a fazer raízes, mas é volúvel às coisas do mundo.
Rapidamente, a necessidade que ultrapassou o primeiro momento transforma-se na sensação de poder. Mas, só a Deus devemos adorar.
Devemos ter serenidade para avaliar que o fruto daquelas ações é mau (Mt 12, 33). E, assim, em radicalidade franciscana, optar pelo Bem. Jamais, pelo aparente abrandamento do Mal, equivalente à flagelação do Cristo por Pilatos.
Acreditar que Deus deseja que persistamos na ação que evidentemente não está de acordo com os mais óbvios preceitos cristãos e atentam contra a Família, a Igreja, o outro, a dignidade humana, a Trindade, é aceitar a oferta do Poder sobre o temporal. É deixar de adorar a Deus e substitui-lo por nossa livre avaliação.
É a ausência da pobreza de espírito de que nos fala São Francisco em suas admoestações (c. XIV).
Resolve-se assim a carência por uma apresentação tranqüila perante o mundo daqueles que se acham pouco amados.
Amarás a Deus de toda a tua alma!

Por fim, aquele que está preso a este mundo não cessa de nos convidar. Uma vez que tenhamos nos negado a fazer o que está à mão, que tenhamos visto que era errado e persistidos firmes em Deus, ele buscará a sensação de fraqueza que ainda nos resta. Seremos tentados a não ver que Cristo com os anjos une o céu e a terra (“os anjos o serviam”, Mc 1, 13).
Será a vez de nos cegar e, sem mais pensarmos que fazemos do certo o errado, compreendendo que algo é errado e, ainda assim, fazê-lo. É a entrega definitiva ao erro. É o salto do alto do Templo (Lc 4, 9).
Mas, “não tentará ao Senhor, teu Deus”.
O Amor a Deus impede que nos entreguemos abertamente ao erro. Isso seria duvidar de Deus e por-lhe à prova. Não tentarás!
Isso fala profundamente nas pessoas mais impetuosas, prontas a agirem tomadas pela paixão e o calor do momento. Não tentarás! Só Deus é o Senhor.
É a semente que luta contra os espinhos…
Amarás a Deus de todas as tuas forças!

Amando a Deus no próximo com nosso pensamento, alma, coração e forças, poderemos chamá-lo de Pai em nossa inteireza. Faremos com que os céus encontrem a terra e Deus nos conduza em nossa missão.
A cada momento de nosso dia devemos refletir sobre a frase que eu devo dizer ("nem só de pão", "só a Deus adorarás...", "não tentarás..."), conforme o desejo que eu sinta no momento. E, sobretudo, ver a Deus no próximo. E isso significa compreender que estamos no mundo para servir, e não impor a nossa vontade.
Afinal, "o cristão que reza não pretende mudar os planos de Deus nem corrigir o que Deus previu; procura, antes, o encontro com o Pai de Jesus Cristo" e "quem caminha para Deus não se afasta dos homens" (Deus Caritas Est, n. 37, 42).


Sobretudo neste momento, atentemos para a advertência do Santo de Assis: “guardemo-nos muito para que, sob a aparência de alguma recompensa ou de obra ou de ajuda, não percamos ou afastemos do Senhor a nossa mente e o nosso coração” (Regra Não Bulada, c. XXII, 25), para que “os negócios e … cuidados mundanos” (n. 20) não sejam porta de entrada para o Mal e o afastamento de Deus e dos irmãos. Humildade e pobreza de espírito devem ser nossos objetivos.

Paz e Bem!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

No meu itinerário franciscano

Hoje gostaria de compartilhar algumas reflexões e imagens que me ocorreram.
Há uma forma de soberba que contamina sutilmente a nossa alma e ali instala as sementes de joio. Ela é relacionada ao pecado original, a uma busca de satisfação no mundo pelo homem e parte da consciência que a pessoa tem de suas próprias qualidades, virtudes e habilidades.
Sua manifestação mais sutil é quando se acha que pode mudar não uma pedra de cada vez, não o seu pequeno trabalho, mas o mundo. E não me refiro aos desejos mais altaneiros, mas a uma sensação de que se pode fazer tudo pelo outro. Uma sensação de segurança na própria arte ou saber que contamina a consciência de que essa possibilidade apenas pode vir de Deus. Essa é a tentação que se instala paulatinamente no deserto. Transformar a pedra em pão, aceitar o mal, jogar-se no abismo: fazer o mal que nos alivia, aceitar o errado como certo, adotar uma vida de práticas equivocadas (ver "minhas palavras, teus lábios").
Mudar o mundo é possível. Muitas coisas são possíveis a um só quando esse um quer algo. Mas há motivos justos e injustos para ser rico, há motivos justos e injustos para ser pobre e assim por diante. Tudo depende desse motivo. A questão não é a empreitada, é porque eu vou dar aquele passo.
Lembro de ter lido nos escritos da vida de São Francisco uma advertência do santo de Assis de que o mal faz crer ao virtuoso que ele faz o bem quando persiste no erro.
Por isso duas imagens podem ajudar.
A primeira, é a daquele que, diante de um espaço vazio para um jardim nada planta. Não cuida da terra, não faz nada. Apenas observa. Virão as ervas daninhas e irão tomar conta do terreno. Mesmo que insista em acreditar que não fez o mal, ele não pode dizer que fez o bem. Ele não manteve a prática do bem. Não precisou semear as ervas sufocantes. Elas vieram e cresceram no lugar. Porém, se cultivar e ornar o seu jardim, então poderá cuidar do que deve ser arrancado e de ter espaço para as belezas simples da natureza que resolvam nascer.
A segunda, é a missão da pessoa que compra matéria-prima para fabricar uma obra de arte. Ela está ali para fazer surgir a beleza de suas mãos. Ela até pode saber como, mas não precisa extrair da natureza aquele material. Esse trabalho pertence a outro. Porém, a qualidade do que faz será intimamente relacionada em conhecer esse processo. Ele precisa conhecer o que adquire para utilizar. Dessa forma deve ser o modo como suavemente deixamos Deus agir no nosso dia-a-dia. Assim deve ser o modo como devemos transformar em atos cotidianos e firmes as palavras do Evangelho.
Haverá os momentos de ir buscar o Evangelho, de pregar a Palavra de Deus. Mas haverá aqueles em que tudo o que deveremos saber fazer – e por isso cada um é chamado conforme sua vida – é coloca-la em prática na nossa vida e na vida do outro.


Paz e Bem!